Câncer, Alimentos Ultraprocessados e Agrotóxicos no Brasil

Fonte: SBT News                                                                                                                                          

São assombrosas as previsões do crescimento do câncer no Brasil e América Latina até o ano 2050, conforme pesquisa publicada na renomada Revista médica Lancet, há poucos dias. Além disto, com as terríveis ameaças dos alimentos ultraprocessados e agrotóxicos no Brasil, o caminho da morte está bem pavimentado.

Agora em novembro, no Dia Nacional do Câncer, um estudo de câncer colorretal no Brasil, denominado de “O desafio invisível do diagnóstico”, da Fundação do Câncer, revelou um dado assustador, ou seja, mais de 60% (sessenta por cento) dos casos registrados em hospitais públicos e privados foram diagnosticados em estágios avançados da doença.

Há poucos dias a Revista Lancet tratou, também, das ameaças dos alimentos ultraprocessados e seus aditivos cancerígenos. Feitos com ingredientes industriais baratos, os alimentos ultraprocessados representam mais de 50% (cinquenta por cento) das calorias consumidas nos Estados Unidos e Reino Unido, sendo que o consumo está aumentando em países de baixa renda como o Brasil e outros da América Latina.

Foi relatado, ainda, a relação dos alimentos ultraprocessados e o câncer colorretal, principalmente entre mulheres.  São vários os alimentos classificados como ultraprocessados – refrigerantes, salgadinhos, biscoitos recheados, pães e produtos de panificação, macarrão instantâneo, barras de proteínas, sorvetes, margarina, carnes processadas como as salsichas, pizza, nuggets e muitos outros.  

Pesquisas realizadas no Brasil pelo INCA(Instituto do Câncer) e Fiocruz já vem demonstrando isto,  mas devido ao assustador aumento de câncer colorretal, outras pesquisas precisam ser realizadas no país para analisar a relação do uso de agrotóxicos e outros tipos de câncer.

Sabe-se que tanto as mulheres como os seus filhos podem sofrer graves efeitos de saúde a longo prazo resultantes do consumo de agrotóxicos. Estudos recentes realizados no Brasil e no exterior demonstraram que a exposição a estes produtos químicos pode ter efeitos transgeracionais, o que significa que resultados adversos para a saúde podem ser transmitidos através de múltiplas gerações.

Neste caso, não só os alimentos ultraprocessados, mas os alimentos em geral que estamos consumindo e a água que bebemos podem ser afetados pelos agrotóxicos, razão pela qual um imposto deve ser pago pelas corporações destinado à pesquisa sobre o que estamos consumindo.

Os canceres mais letais são os de pulmão, que registrou mais de dois milhões de óbitos em 2023 e o colorretal, com mais de um milhão de óbitos no mesmo ano. Em seguida, vem os de estomago, mama e esôfago. O câncer de próstata no Brasil vem também crescendo muito.

Afirma-se que mais de 40% destes tipos de canceres podem ser evitados, desde que as desigualdades sociais sejam reduzidas e a políticas públicas sejam direcionadas para as áreas de saúde e sistemas alimentares e nutrição. No caso de alimentos ultraprocessados tem-se que considerar ainda os casos de obesidade e diabetes.  

A comunidade científica vem propondo estratégias de mudanças para enfrentar estes problemas, mas ela sozinha não tem como enfrentar o poder de corporações poderosas, a exemplo da indústria de ultraprocessados, uma das mais lucrativas do mundo, que tem seus lobbys para influenciar governos e até financiar pesquisas para desacreditar a verdadeira comunidade científica.

No Brasil, governos de esquerda e direita sempre beneficiaram estas corporações em detrimento de boas políticas públicas. Vimos o fracasso do Brasil na COP30, com o governo propondo explorar petróleo na Foz do Amazonas e os lobistas da agricultura se omitindo em falar do metano, segundo maior poluidor, oriundo dos pums e arrotos de vacas e bois.

O Congresso Nacional esta semana demonstrou ser mesmo inimigo do povo, enfrentado o governo e a comunidade científica, ao derrubar uma série de vetos do Presidente Lula, que visavam uma melhoria do processo de licenciamento ambiental.

Diante disto, só a sociedade civil organizada poderá enfrentar as grandes corporações e a classe política que, com suas políticas do mal no Brasil nos últimos anos, pavimentaram o caminho da morte de muitos.. Nossas escolhas de bem-estar não são as deles e precisamos nos organizar urgentemente para enfrentar o mal.

Se as mulheres são severamente castigadas com o maior índice de câncer no mundo – câncer de mama – parece serem também castigadas com o maior índice do câncer colorretal, por conta do consumo de alimentos ultraprocessados, que estão associados a pólipos colorretais em mulheres com menos de 50 anos.

Temos que criar e fortalecer uma consciência da vida humana diferentemente de uma consciência dominante de escravidão, que nos oprime, explora e mata.  

Co-autoria:

Susanna Gouveia Rodrigues, mestranda em População e Medicina, na Universidade de Guelph, Canada. 



                                                                        



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